segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Em meu próprio divã

Refletindo sobre a vida, eu me lembrei de um tempo, onde tudo podia dar certo, bastava acreditar.
Quando criança, eu só tinha um desejo: ser alguém importante. Modulei minha vida ao longo de anos através disso, fantasiei, vivi, errei.
Nos primeiros passos embalado pela euforia de minha família, resolvi que ser importante era ser um jogador de Futebol. e assim fiz, entrei em um time amador da minha cidade, levantei terra, arranquei grama, lancei bola, mas algo não havia mudado. Ser jogador de Futebol, não era ser importante.
Então, parei e pensei, quem sabe ser um "rockstar" não me tornaria importante, e reza minha lenda que estudei todos os meticulosos detalhes da música, me tornei um musicista, um multi-instrumentista, um cantor, até mesmo professor. Cantei, gritei, toquei, escrevi, mas ainda assim não me via como importante.
Num mundo globalizado, o fim da década de 90 início dos anos 2000, a tecnologia, a informação, o link entre as coisas começava a borbulhar através da Internet. Assim conhecendo vários lugares e culturas diferentes decidi ser poliglota. Estudei, li, falei, conversei, tentei, aprendi quatro línguas exóticas, podia sair do Brasil à Europa, sem ao menos sair de casa, conheci pessoas da América ao Japão. Como disse diversas vezes ao longo desse texto, ainda não foi suficiente. Eu não era importante.
Vasculhei, a cultura do  meu país, e vi nela uma figura que talvez estivesse um pouco acima às outras. O médico, a oh médico. Cuidei, estudei, tentei, aproximei das pessoas, ouvi seus problemas, refiz as ataduras. Estive em hospitais, até mesmo no mais importante Pronto Socorro de meu estado. E ser médico, não, não era, e não é ser o mais importante, essa é a grande verdade.
Precisava de um tempo, e nesse tempo pensei, que talvez ser o coadjuvante, estar nos bastidores seria ser importante. Decidi ser um pesquisador, aprendi, li, escutei, apresentei, defendi, fiz lâminas, colhi sangue, experimentei, tentei, mas não foi assim tão importante.
Nesse meio tempo, conheci uma pessoa, cuja a sedução me fez sentir importante, mas essa mesma sedução, ah deixa pra lá...
Voltemos as partes boas da vida, ou talvez as importantes, afinal eu ainda queria ser importante. Então viajei, experimentei, li, meditei, e voltei. Tentei ser importante, longe de casa, sozinho, sem regras, sem um caminho linear, mas de forma alguma fui tão importante.
Até que, opa, apareceu uma expressão de esperança nesse texto.
Sim, esperança, ela reacendeu uma vontade, uma ideia, SER IMPORTANTE.
E talvez depois de todo esse percurso eu tenha aprendido que ser importante é ser apenas EU. É juntar todas as peças que fui construindo, todo o conhecimento que fui adquirindo, e ser eu.
O importante hoje é aquele que cada dia eu vejo no espelho, e me diz: "vai em frente garoto, viva, que ainda assim estarei aqui. Ainda saberei quem é você, ou quem sou eu."
Seja importante para si mesmo essa é a lição que mais agradeço ter aprendido.